Não demorou muito para que Klaus Larousse despertasse o interesse de um patrono. Essa era uma situação bastante comum em WaterDeep, pelo que pude perceber. Encoberto pela exuberância inebriante da cidade, com suas praças, centros comercias e pomposos prédios públicos, existia um submundo agitado e caótico. Onde forças poderosas operavam, promovendo ações que não raramente refletiam na vida de milhares de pessoas, assim como as ondas são apenas reflexos dos movimentos das águas profundas.
Incomum no entanto era o patrono que havia escolhido o aspirante a Mago Vermelho para deflagrar seus objetivos escusos. Tratava-se de uma senhora de aparência frágil, embora, mesmo naquela época em que eu era recém saído dos campos de treinamento, eu já soubesse que existiam outras formas de poder além da espada e dos feitiços. A misteriosa mulher se apresentou a nós. Digo nós porque ela havia chamado não só Klaus Larousse, mas também uma meia dúzia de pessoas e imagino que a visão daquele estranho grupo em volta de uma mesa era como a de um mosaico, onde as peças parecem afrontar-se umas às outras. Só mais tarde fui perceber que assim como o mosaico, bastava olhar as peças um pouco mais de longe que você logo perceberia o padrão que elas representavam.
Nesse momento foi servida uma farta refeição, eu me abstive de comer. Era óbvio, estava em serviço, na verdade sequer me sentei à mesa, permanecia dois passos atrás e um a direita de Klaus Larousse. Fazia isso para caso se mostrasse necessário eu poderia me aproximar rapidamente do Mago e protegê-lo com o escudo que carrego na mão esquerda. Este é um dos tecnicismos do meu trabalho, um dos mais simples pra dizer a verdade.
Depois de satisfeitos a mulher começou a discursar sobre trivialidades. Chamo de trivialidades porque a proposta que ela tinha para nós era simples: assassinato. Mas ela se deu ao trabalho de traçar motivos e razões que pretensamente justificariam a carnificina que iríamos promover. Aqueles assuntos não me interessavam, além disso, a decisão de aceitar ou não aquele trabalho não cabia a mim. E sem me consultar, Klaus Larousse aceitou matar o que pareciam ser um punhado de religiosos fanáticos. Eu poderia facilmente garantir a sua segurança, não havia motivos para censurá-lo.
Cumprimos o acordo naquela mesma noite. Eram dois pequenos cubículos que funcionavam como templos, dissimulados como casas convencionais. Não havia o que se pudesse chamar de defesa ou mesmo guarnição, e em poucos instantes tudo o que restou foram escombros, que os outros tiveram o cuidado de incendiar para evitar maiores investigações. Durante nossa breve batalha ocorreram-me algumas coisas.
A primeira era que dentre nós, exceto por mim, não haviam homens ou mulheres que pudessem ser considerados verdadeiramente guerreiros. Exceto, talvez, por um homem que lutava ao nosso lado, e atendia pelo nome de Jim. Tinha uma aparência única, que combinava com a excêntrica lâmina curva que ele usava. Apesar das diferenças, eu tinha que admitir que ele tinha habilidade. Os demais tinham talentos únicos e diversos, mas eram desajeitados e fracos para o combate. Se tivéssemos que permanecer juntos, eu sabia qual seria o meu papel naquele mosaico.
A outra coisa que me ocorreu foi que WaterDeep era uma cidade imensa, na qual viviam todo o tipo de gente. Deviam existir centenas desses pequenos templos clandestinos, desses deuses e de tantos outros. O que esses tinham de especial? Me ocorreu que a velha na taverna escondia algo. Minha dúvida durou muito pouco, leitor. No caminho de volta, enquanto passávamos pelo porto, as verdadeiras intenções de nosso patrono se revelaram.
terça-feira, 20 de maio de 2008
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Um comentário:
Oi, me manda seu email ^^
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